-- Meu problema, amigo,
é que eu não vejo felicidade em nada que eu olho.
-- Como assim? Há tanta coisa feliz
pra se ver... e você não vê felicidade em nada?
-- Bem isso...
Ela estava de olhos fechados, tragando um cigarro, deitada
na grama. Seu amigo ao seu lado, sentado, com uma garrafa de whisky de companhia.
-- Tem a ver com a familia, não é?
O relógio soou a 7ª badalada.
-- Está tarde.
-- Já se passaram das 23h, agora
você vem me dizer que está tarde?
-- Vamos em bora. O inferno já está cheio, não via querer abarrotar por
lá, não né mesmo?
-- Que papo é esse?
-- Papo nenhum... só digo que é perigoso
estarmos aqui --
houve um silencio. -- Sim, foi familia. Seja lá o que isso for...
O amigo segurou a mão da amiga.
-- Como assim "seja lá o que
isso for"? Eu sou sua família. Amigo, irmão, ou até mais.
A amiga riu. E depois chorou (nada mais que 2 lágrimas).
-- Toma -- o amigo ofereceu uma dose de whisky à ela.
A garota bebeu como se fosse a ultima dose se sua vida. Se levantou, pegou a
garrafa, fez um sinal com a cabeça para que o amigo a seguisse. Foi até seu quarto,
na faculdade de Mounsesth, pegou uma mochila, um pedaço de pano, que colocou na
boca da garrafa, ascendeu mais um cigarro e logo depois queimou a ponta do pano
na boca da garrafa; pôs a garrafa em cima da cama e saiu.
Semanas depois, ela já estava bem longe do lugar que chamava
de casa, junto a seu amigo, irmão, ou até mais, vendo em um telejornal o presidente
do país fazendo um pronunciamento em luto pelas 3 mil e 12 mortes em Birden Mounsesth,
na faculdade local, apelidada de "Boca
do Inferno" por ter acabado em fogo.
-- Já me cansei daqui.
O amigo a olhou, sorriu e pegou o celular para ligar para o aeroporto local.
-- Por favor, que horas sai o próximo voo para fora do país? Um lugar pouco visitado, por favor. Ok, aguardo sim.
-- Familia... -- a garota riu para o amigo -- puff. Não queria
que nós 2 abarrotassem no inferno mas mandei 3 mil e 12 pra lá. Ironico não?